terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Soma e segue

A transmissão directa de récitas da Metropolitan Opera House continua, e o sucesso está a ser tal, num país à míngua de ópera de qualidade, que já há sessões esgotadas e outras em vias disso. Para o espectáculo de sábado passado já só arranjei bilhetes para uns lugares enviesados mas apesar do torcicolo valeu bem a pena.

Vi a ópera Don Carlo ao vivo no S. Carlos em finais dos anos 70, e lembro-me sobretudo de ter ficado impressionadíssima com o rei Filippo. Investigações de amigos melómanos concluíram que o cantor era Cesare Sieppi, e que por isso não foi leviana a minha admiração.

O Filippo do Met foi, no sábado, Ferrucio Furlanetto, mas a sua belíssima e genuína voz de baixo teve de bater-se com um elenco masculino de luxo: Roberto Alagna em grande forma (fez-lhe bem o divórcio?) no protagonista, Simon Keenlyside que após o que me pareceu alguma dificuldade inicial na respiração fez uma excelente figura como Rodrigo, os dois outros baixos: Eric Halvarson magnífico também cenicamente no Grande Inquisitore e, a crer no programa impresso, Alexei Tanovitsky, que há seis meses no S. Carlos nos arrebatou e cantou agora o Frade, uma figura mal aproveitada pelo encenador.

Magnífica também Marina Poplavskaya em Elisabetta, que juntamente com Alagna no dueto final me levou à beira das lágrimas. Eu sei que sou um coração mole, mas chorar na ópera? Felizmente a chegada dos vilões poupou-me a essa indignidade.

De entre os principais quem me pareceu mais fraca foi Anna Smirnova, a princesa Eboli, sem graves nenhuns, e sem conseguir de todo fazer-nos acreditar na sua beltà.

Uma palavra de apreço para Layla Claire no pagem, e outra para a orquestra e o maestro Yannick Nezet-Seguin que nos deram uma versão intensa e emocionante, de tal modo que as quatro horas e meia pareceram curtas. Os cenários variaram entre o moderno mas não atrevido, o clássico naturalista e o de mau-gosto (a fogueira da inquisição). E para terminar volto a dizer que isto não é o mesmo que ver ao vivo, porque a amplificação uniformiza as vozes, falseando os valores relativos.

Os clips que aqui ficam são a grande ária de Filippo, cantada por Furlanetto e a ária final de Elisabetta por Poplavskaya, tal-qual o fizeram agora, mas em 2008 na ROH:




e o dueto de Carlo e Rodrigo, na versão actual do Met:

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