domingo, 15 de julho de 2007

Allgarve

Notícia do Observatório do Algarve:

Algarve deve atrair turistas classe alta e não de massas
15-07-2007 11:57:00
Os turistas que interessa atrair para o Algarve são de classe alta, para permitir mais rentabilidade, e não turismo de massas, defendeu o ministro Manuel Pinho em Faro, no lançamento do Allgarve.
(...) "Portugal é um país de reduzida dimensão e que está longe dos grandes centros da Europa", disse o ministro, explicando que "são turistas mais exigentes que trazem mais dinheiro para o país, e que permitem mais rentabilidade aos hotéis".
(...)
Manuel Pinho está empenhado em passar uma imagem do Algarve para o exterior que vá além do mar e sol. "Mar, sol golfe, cultura, congressos. É essa imagem transversal que se pretende passar", disse(...).
(...)
O ministro revelou-se satisfeito com o conjunto de eventos culturais que o Algarve está a oferecer esta época e mostrou-se surpreendido por o espectáculo de ópera "Carmina Burana" já estar ter esgotado.
"Durante três dias os bilhetes estão esgotados, o que é surpreendente. No início do Verão as pessoas vêm para a praia e durante três dias esgotam um espectáculo exigente como é este", notou Manuel Pinho.
O ministro da Economia deu garantias de que o objectivo da campanha promocional 'Allgarve' era "estender de ano para ano a época em que se realiza este evento para reduzir a sazonalidade".
Convicto de que a Economia tem de ser olhada de forma transversal, Manuel Pinho disse que "a cultura é uma forma de atrair portugueses e estrangeiros para o Algarve e para outras zonas do país".

Parece-vos bem? Também a mim. Porém, sendo Portugal "um país de reduzida dimensão e que está longe dos grandes centros da Europa" e tendo o Algarve uma imagem fraquíssima, atraindo hoje em dia quase só ingleses de classe baixa em busca de sol e cerveja a preços reduzidos, reverter esta situação não será fácil a não ser que nos empenhemos numa real mudança de estratégia que implique cuidado com o património, controle do crescimento urbano, criação e manutenção de eventos culturais, e muitos milhões de euros para marketing lá fora.
Isto não é compatível com aquilo que se vê: que o Centro Cultural de Belém deixou de ter capacidade para manter a Festa da Música, que o Teatro Municipal de Faro tem um auditório pindérico e desconfortável, que nos terrenos verdes de Vilamoura se semeiam gruas, que se transformou a Praia de Rocha naquilo que hoje é, sem rocha sequer, com uma Fortaleza sem sentido porque deixou de estar sobranceira à foz do rio, que os centros históricos estão reduzidos à mínima expressão e cercados por prédios de quinze andares semi-vazios.

Mas há mais: a mesma notícia, no
Sol, acrescenta uns dados:

Manuel Pinho
Turismo em Portugal vive «o melhor momento de sempre»
(...) Para sublinhar essa aposta na qualidade, ministro da Economia e secretário de Estado do Turismo apresentaram um filme sobre oito grandes investimentos turísticos, sete deles de cinco estrelas, cuja conclusão está prevista para os próximos dois anos.
Estes projectos estão em fase de implementação, totalizando 1.400 milhões de euros com a capacidade para gerar cerca de 6 mil postos de trabalho.
Os empreendimentos permitirão ao Algarve duplicar a sua oferta de cinco estrelas até 2010, dando cobertura a uma das grandes apostas de oferta turística na região, que é o golfe, que tem actualmente 34 campos a serem explorados, cinco em construção e 39 projectos para novos campos.

Ficamos esclarecidos. Afinal o caminho é o mesmo: o do betão, e o sinistro da Economia não fazia mais do que repetir lugares-comuns.
Há um ditado portugês que diz que "água mole em pedra dura tanto dá até que fura". Mas há coisas mais duras que a pedra: as cabeças que tomam decisões neste país.
Arre!

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