segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A profecia de Napoleão

Disse Napoleão I: Quand la Chine s'éveillera, le monde tremblera.

Não tenho visto os Jogos Olímpicos, mas vou tendo uma ideia do que se está a passar.

Sei que a cerimónia de abertura foi no estilo habitual das festas de propaganda dos regimes de partido único, ou seja, centenas ou milhares de pessoas a fazerem a mesma coisa ao mesmo tempo, tipo formigas descerebradas.

Sei que os portugueses, além de não ganharem nada, dão explicações estúpidas - à excepção dos verdadeiramente bons, como Vanessa Fernandes, que se esforçou e ganhou uma medalha de prata (parabéns, Vanessa!), ou Francis Obikwelu, que não ganhou e pediu desculpa.

Sei que um americano de perna curta ganhou oito medalhas de ouro na natação o que acho notável e alguns acham que é um milagre dos fatos de banho made in Portugal.

Mas sobretudo sei que os chineses têm esmagado toda a gente, e nomeadamente os Estados Unidos da América, ganhando a maioria das medalhas de ouro. E isto tem um significado para além do esforço dos atletas individuais ou das estruturas desportivas. Isto quer dizer que os chineses ambicionam ser os melhores do mundo, e não estamos a falar de jogos.

Os chineses foram aqueles tipos que faziam umas imitações de camisolas Lacoste que se deformavam à segunda lavagem e relógios Rolex que perdiam o dourado ao segundo mês de uso. Hoje são os que inundam o mundo com produtos baratos e de fraca qualidade. Mas não vai ser sempre assim, até porque graças à globalização os trabalhadores chineses vão ficar mais caros quando começarem a exigir os mesmos direitos dos ocidentais. Por isso, se os empresários chineses quiserem continuar a vender, têm de mudar de estratégia.

Já estão a mudar.

Os chineses agora querem fazer bem, ou antes, querem fazer melhor: melhor do que os outros. Já não se contentam com medalhas de lata, nem sequer lutam por medalhas de bronze ou prata: essas podem ficar para quem as quiser. Os chineses estão a lutar pelo ouro. Estão a lutar pela excelência. Não só a nível desportivo: até mesmo as aldrabices na cerimónia de abertura foram feitas com recurso às tecnologias em que o ocidente detinha a primazia.

E é um objectivo nacional. Os chineses pretendem, daqui a dez anos? vinte anos? ser a maior economia mundial. Estão a lutar por isso.

A China acordou. Treme, mundo.

2 comentários:

Fernando Vasconcelos disse...

Por acaso Gi não concordo muito. A China ainda está essencialmente a copiar. A cerimónia de abertura foi linda mas foi feita na base de grandes massas humanas de figurantes. Tecnologia - nope ... As medalhas bem não tirando o mérito são na sua maioria conseguidas nas modalidades de menor expressão. Aliás se viram um documentário com o comité olímpico chinês podem ver que a coisa foi calculada nessa base - nada de errado nisso notem. for traçado como objectivo e determinado o plano para o atingir. Onde está então o problema ? Bem está no próprio modelo que se esgota por si próprio. Deixa de ser competitivo assim que o próprio mercado interno sobe o nível de exigência em termos de qualidade de vida. Aliás se repararem a China não tem em praticamente nenhuma área publicação cientifica de relevo ... um sinal do verdadeiro estado de desenvolvimento. Potencial ? Sim têm muito ... está a despertar ? Sim sem dúvida. O modelo de desenvolvimento porém a prazo terá de mudar.

Gi disse...

Fernando, concordo consigo em que eles ainda estão a copiar, mas já estão a fazê-lo muito bem.

A tecnologia foi utilizada para pôr uma criancinha a cantar em play-back e para criar efeitos especiais em imagens de fogo-de-artifício.

E a minha tese é precisamente que eles têm de mudar o modelo de desenvolvimento, e que estão a começar a mudá-lo, por isso parece que aí também estamos de acordo, ou não?

A grande interrogação é quando é que isso se vai realmente notar.