segunda-feira, 15 de março de 2010

O portão

Passo com frequência diante desta casa. Ao longo dos anos tenho-a visto crescer, desde o reboco nas paredes às janelas novas, à pintura, e mais recentemente à colocação deste portão a fechar o pátio.

No pátio havia um cão grande, já não jovem, de pêlo mal tratado, amarrado com uma corrente, sempre sozinho, deitado. Mais tarde apareceu outro cão, também amarrado, deitado um bocado afastado do primeiro. Ao sol, à sombra, à chuva, dois cães amarrados com correntes, todo o dia deitados no pátio. Em Portugal, que eu saiba, não é proibido. Mas apertava-se-me o coração.

Quando instalaram o portão pensei, Ainda bem, assim já não vejo os cães, porque eu uso esta táctica de avestruz perante aquilo em que não posso interferir. Mas a verdade é que não os vejo mas suponho que estão lá, e que apesar de ter sido colocado o portão não lhes devem ter sido retiradas as correntes. E não tenho coragem para me certificar.

(Guia, Março 2010)

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