terça-feira, 1 de novembro de 2011

De NY para Lisboa: Don Giovanni

Assisti à ópera Don Giovanni transmitida do Met no sábado passado para a Fundação Gulbenkian: a encenação de Michael Grandage seguia o libretto de muito perto, numa leitura imediata, sem grandes novidades, mas em que tudo fazia sentido. Dentro do género, gostei. Os cenários eram um bocadinho escuros e monótonos, os figurinos pelo contrário correctos e elegantes, tudo a condizer, o que se espera do Met. A orquestra excelente sob a direcção vivace con brio de Fabio Luisi.

Gostei de todas as vozes masculinas. Os barítonos Mariusz Kwiecien (Don Giovanni) e Luca Pisaroni (Leporello) excelentes, fazendo uma grande equipa. Kwiecien aliás comentou no intervalo que já se conheciam bem nos respectivos papéis, e estes de trás para a frente. Pisaroni tem uma voz magnífica e uma grande presença cénica; todas as árias lhe sairam lindamente. O tenor Ramón Vargas tem uma voz muito doce e bonita, com fraseado elegante, e conseguiu construir um Don Ottavio cuja fraqueza não é vexatória. Joshua Bloom foi um Masetto simpático e o baixo Stefan Kocán, sem falhas, um Commendatore apropriadamente arrepiante.

Quanto aos sopranos, alguns reparos. Marina Rebeka na Dona Anna, uma voz clara mas metálica, com perfeito controle dos agudos e da afinação. O wagner-fanatic achou que a maneira de cantar de Rebeka seria talvez adequada à Rainha da Noite; o facto é que são duas personagens psicologicamente muito semelhantes, que perseguem a vingança através de terceiros que manipulam pelo afecto. Barbara Frittoli na Dona Elvira esteve muito melhor na parte vocal do que eu esperava, embora desejasse uma criação cénica mais complexa. Mojca Erdmann na Zerlina foi uma voz fresca e agradável, que no entanto Jorge Calado, na sua coluna do Expresso, diz que ao vivo, no ensaio geral, mal se ouvia - mais uma vez se comprova que não se pode realmente julgar as vozes pelo que os microfones nos apresentam.

Em resumo, um Don Giovanni dirigido às famílias, outra excelente tarde passada no Grande Auditório. Na próxima semana há mais.

6 comentários:

FanaticoUm disse...

Todos os "bloggers" que escrevem sobre óperas que vão vendo têm manifestado uma opinião muito positiva sobre este Don Giovanni que, infelizmente, não pude ver. A Gi não é excepção e fico-lhe muito grato por esta sua descrição. Como também estou muito pesaroso por não ter tido a oportunidade de o ter apreciado.
Cumprimentos.

Gi disse...

Olá FanaticoUm. Foi realmente uma produção - e transmissão - de alta qualidade, conquanto hoje, graças às encenações europeias que por vezes odiamos, já esperemos talvez leituras mais complexas das obras originais. Até breve.

Mário R. Gonçalves disse...

Gostei do post, Gi. Fiquei com pena de não ter visto. E é bom ter notícia de novas vozes que vale a pena ouvir.

Mas não há crise que me impeça de voltar ao MET num dos próximos anos. Projecto prioritário!

Gi disse...

Obrigada, Mário. Esse é um projecto que também tenho.

mfc disse...

Gosto de ver o entusiasmo com que falas deste teu hobby!
Beijos.

Gi disse...

Mfc, :-)