segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Giulio Cesare in Ispagna

Sevilla está a duas horas de distância, sem portagens, o Teatro de la Maestranza estreou anteontem o Giulio Cesare in Egitto de Haendel com Lawrence Zazzo e Elena de la Merced, e o simpático Hotel Inglaterra aceita cães.

A encenação foi criada em 2001 para o Teatro del Liceo em Barcelona e agora reposta, e tem achados muito bons (o tecto que vai descendo sobre Cornelia e Sesto na cena final do primeiro acto, a acentuar o desespero deles) e outros de gosto duvidoso (a cabeça de Pompeu que anda de mão em mão durante toda a ópera). Do crocodilo (um extraordinário bailarino que se movia como um verdadeiro réptil) achei que era um surpreendente e benvindo interesse cómico que não teria se calhar ofendido Haendel. Bjorn Jensen, responsável pela reposição, explica no entanto que é mais do que isso: simboliza o choque entre duas culturas e como actuamos frente a alguém totalmente diferente.

Também não teriam provavelmente ofendido Haendel alguns cortes feitos (no segundo acto cena e meia até à revelação de Lídia de que realmente é Cleópatra) nem algumas árias repescadas a outras óperas, embora hoje sejam opções discutíveis.

Quanto aos cantores: gostei muitíssimo de Elena de la Merced (Cleopatra), com uma voz muito bonita, doce e ágil, assim como do contra-tenor Lawrence Zazzo (Cesare), expressivo tanto do ponto de vista vocal como teatral - excelente em Aure deh per pietà. Marina Rodríguez-Cusí (Cornelia) e David Sagastume (Nireno) muito bem; Lola Casariego (Sesto, em substituição de Tuva Semmigsen) nem tanto: o personagem pede (e oferece) muito mais.

Parece que está na moda os barítonos despirem-se em cena, e assim tivemos um momento de exposição para José Julián Frontal (Achilla) que se pôs em cuecas. Infelizmente, para barihunk falta-lhe corpo e voz ;-)

Gostei do som da Orquestra Barroca de Sevilha e notei o solo de oboé (?) a introduzir a ária de Cleopatra Se pietà di me non senti, um dos pontos fortes da noite, repetida da capo com ornamentações distintas durante todo o tempo que foi preciso para mudar de cenário.


O público, que enchia praticamente a sala no início, debandou ao segundo intervalo e depois, durante os aplausos, foi saindo, o que sempre me parece desagradável para os intérpretes. Vi gente bem arranjada - os espanhóis cuidam-se! - e alguns sapatos espantosos...

5 comentários:

Moura Aveirense disse...

Que bom! :) Deve ter sido um excelente serão. Essas "escapadas" são fantásticas.

Em terras lusas também se abandona a sala antes de acabar o concerto e/ou os aplausos. Como eu costumo dizer, "a casa deve estar a arder", para o pessoal sair com tanta pressa...

io disse...

Qu'inveja Gi! Handel! Giulio Cesare! Sevilha! :-)

Gi disse...

Gostei imenso. Fiquei logo com vontade de repetir :-)

Paulo disse...

Vi o Zazzo em Lisboa, no "Dionisio, re di Portogallo". Os outros não conheço... Ainda bem que gostou, só tenho pena que não tenha tido direito a um barihunk em condições.

Gi disse...

Também eu, Paulo, também eu :-P