quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O que fazer com os piratas?

A propósito da pirataria ao largo da Somália, um dos episódios de que mais gosto na vida de Júlio César é o da sua captura por piratas a caminho de Rhodes onde planeava estudar retórica.

Nessa altura ele ainda não tinha trinta anos e ainda não tinha feito nada que o notabilizasse especialmente aos olhos do mundo. Era apenas um Romano pelo qual os piratas pediram um resgate de cinquenta talentos* (Plutarco diz que foi o próprio César que aumentou o pedido inicial de vinte talentos).

Enquanto os seus acompanhantes procuravam obter um empréstimo nas cidades da Ásia Menor, César instalou-se o mais confortavelmente que pôde, apenas com um médico e dois criados, na aldeia que servia de quartel-general aos piratas, e ficou à espera, entretendo-se a escrever discursos e poemas que seguidamente declamava: uma espécie de treino para as lições que esperava ter em Rhodes. Chamava burros e ignorantes aos piratas quando não apreciavam as suas obras, e ameaçava em tom jocoso crucificá-los a todos quando ficasse livre. Eles riam-se.

Ao fim de quarenta dias os amigos e escravos voltaram com os cinquenta talentos; César foi libertado perto de Mitilene e imediatamente recrutou uma pequena força militar com a qual perseguiu os piratas, os capturou e, conforme prometera, executou.

Suetónio nota que César, que não era cruel por natureza, antes de os crucificar os mandou estrangular.

(Rhodes, Rhodes, Setembro 2005)

* 1 talento = 100 libras romanas (de ouro ou de prata)

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